Lugar de mulher é no campo mostrando a arte do futebol, agora para o Mundo.

Campo Grande(MS) – O Brasil estreou com vitória na Copa do Mundo Feminina de 2023. A Seleção Brasileira não tomou conhecimento do Panamá e goleou por 4 a 0, com três gols de Ary Borges e um de Bia Zaneratto. Criada pela FIFA em 1991, a Copa do Mundo de Futebol Feminino chega à sua nona edição. Mas será apenas a terceira vez que haverá partidas televisionadas ao vivo no Brasil.

Somente no século XXI, em um esporte que existe há 160 anos, a categoria das mulheres conseguiu alcançar esse patamar de visibilidade. A autora de uma tese de doutorado que buscou entender o apagamento da prática futebolística pelas mulheres ao longo dos anos, a pesquisadora da Universidade Federal Fluminense, Nathália Pessanha observa que durante quatro décadas elas foram legalmente impedidas de praticar o esporte no Brasil.

A proibição constava no decreto que criou o Conselho Nacional dos Desportos, assinado em 1941 pelo presidente Getúlio Vargas, e que só foi revogado em 1979. O futebol jogado por mulheres cresceu como prática esportiva no fim da década de 1930, com formação de times com trabalhadoras. Na época surgiram discursos que visavam proibir sua prática. Em sua tese, Nathália Pessanha defende que os objetivos da proibição iam além do futebol em si.

O comprometimento da “feminilidade” da mulher era outra preocupação, afirma Nathália Pessanha. O decreto do governo Vargas falava que as mulheres não poderiam praticar esportes não associados à sua natureza.

Mesmo com a proibição oficial e a consequente falta de investimentos, brasileiras continuavam encontrando formas de praticar o esporte. O futebol das mulheres também respirava fora do país, com a realização do que Nathália Pessanha chamou de “copas clandestinas”, que o Brasil não participou, apesar de convidado. Foram duas edições, na Itália em 1970 e no México em 1971, que não tinham a chancela da FIFA.

O esforço empregado durante anos para que mulheres não jogassem futebol, segundo Nathália Pessanha, tem efeitos simbólicos e práticos. O simbólico é o que deixou inculcado na mente de tanta gente que o futebol não é um esporte que deva ser praticado e apreciado por mulheres.

Vargas deve estar “remoendo” onde estiver ao imaginar uma vitória da seleção feminina de futebol.

No lado prático, Nathália Pessanha cita os impactos também visíveis que diferenciam o desenvolvimento do futebol praticado por homens e mulheres. Com informações da Rádio Agência Nacional.